REVISTA THAUMAZEIN – ANO V – N.10 – ESPECIAL FENOMENOLOGIA

Thaumazein, Ano V, Número 10, Santa Maria (Dezembro de 2012)
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EDITORIAL – A FENOMENOLOGIA E O SEU IMPACTO NA FILOSOFIA E DEMAIS SABERES CONTEMPORÂNEOS
O número 10 da Revista de Filosofia Thaumazein, do curso de Filosofia do Centro Universitário Franciscano – UNIFRA, tem a grata satisfação de trazer a público uma edição especial dedicada à Filosofia Contemporânea e, de modo especial, à Escola Fenomenológica, em suas múltiplas faces, temas e autores. Os textos aqui reunidos versam sobre questões diversas que vão desde a ontologia à ética e estão perpassados por uma reflexão filosófica de inspiração fenomenológica e crítica. A edição reúne dez (10) artigos, uma (01) resenha e uma (01)tradução
comentada, cujo teor geral passamos a apresentar brevemente.
Marcelo Fabri, um dos maiores especialistas e estudiosos em fenomenologia, no Brasil, empreende uma análise fenomenológica do conhecimento avaliando a essência e a atualidade do modelo fenomenológico no tocante às questões ontológica e epistemológica. O artigo apresenta uma análise fenomenológica do conhecimento, tal qual ela aparece na grande obra de Husserl intitulada Investigações Lógicas. Mostrar, sobretudo, a essência e a atualidade de um modelo filosófico que lutou contra o ceticismo a partir da análise intencional da consciência, bem como das significações ideais atingidas por tal consciência e apesar da ênfase sobre as significações ideais, em fenomenologia a vida concreta não será jamais esquecida.
Marcelo Fabri, Ph.D.

Marcelo Fabri, Ph.D.

Silvestre Grzibowski, em seu texto, articula, dentro da perspectiva levinasiana, os temas do passado imemorial e da não -intencionalidade na fenomenologia do tempo. Em interlocução com Husserl, as noções de diacronia, vestígio e Dizer são avaliadas em relação com as noções de proto-impressão e de vivência afetiva.
Silvestre Grzibowski, Dr.

Silvestre Grzibowski, Dr.

Paulo Sérgio de Jesus Costa, no artigo intitulado a crítica da fenomenologia da imagem por Lévinas e o nascimento da responsabilidade, faz uma avaliação da crítica levinasiana ao pensamento totalizante fixado em imagens. No mesmo sentido, avalia a possibilidade de um sentido ético que diz o humano na relação com outrem. A estratégia de Costa é promover uma interlocução entre fenomenologia e literatura russa como duas fontes da reflexão filosófica levinasiana.
Paulo Sérgio de Jesus Costa, Dr.

Paulo Sérgio de Jesus Costa, Dr.

Marcos Alexandre Alves apresenta a ética levinasiana como tributária da fenomenologia. Mostra que apesar das tentativas empreendidas por Lévinas de se afastar da fenomenologia ele sempre permaneceu fiel a ela. Nesse sentido, defende que através da epoché fenomenológica, Lévinas  inventariou o significado anárquico da ética que torna os outros significados possíveis e os colocam em questão e avaliação. Enfim, demonstra que o último estágio da redução fenomenológica é a irredutível alteridade do Outro, que por sua vez desperta o eu para a responsabilidade ética e contribui para o nascimento da subjetividade e da própria sociabilidade.
Marcos Alexandre Alves, Dr.

Marcos Alexandre Alves, Dr.

Cristiano Cerezer empreende uma análise da noção levinasiana de substituição como uma significação individuante que opera no seio da responsabilidade e desde a sensibilidade ética de cada sujeito em relação com o Outro. Faz uma análise inicial da noção de substituição em Emmanuel Lévinas, levando em conta alguns aspectos centrais de sua formulação em Autrement Qu’Être. Nessa obra, Lévinas desenvolve e radicaliza as análises que outrora apresentou em Totalidade e Infinito. O artigo demonstra que Lévinas, até Totalité et Infini, desenvolveu uma fenomenologia do humano e desenhou os contornos de uma ética da alteridade.  Já
em Autrement Qu’être desenvolve uma fenomenologia da subjetividade e descrever a gênese e a estrutura de
uma sensibilidade ética apta a acolher o sentido da alteridade ética. Cerezer, conclui o seu artigo, destacando
três situações: a situação obsessiva implicada na gênese daconsciência moral; a relação entre recorrência e transcendência na encarnação pessoal da responsabilidade; a articulação entre tensão e vocação na significação moral.
Cristiano CEREZER, Prof. Drndo.

Cristiano CEREZER, Prof. Drndo.

Paulo Gilberto Gubert trabalha, desde o pensamento Paul Ricouer, o problema da intersubjetividade e estabelece, com relação ao tema, uma interlocução com Husserl e Lévinas. A investigação salienta que a
fenomenologia preconizada por Husserl e desenvolvida por Levinas, por um lado, tem o mérito de elevar o problema do outro ao primeiro plano da discussão filosófica; porém, por outro lado, radicalizar o problema do outro, ao polarizar a discussão sobre a primazia entre o ego e o alter. Enfim, seguindo a proposta preconizada por Ricoeur, o autor defende a necessidade de uma dialética de complementaridade entre os pólos em questão.
Paulo Gilberto Gubert, Drndo.

Paulo Gilberto Gubert, Drndo.

Vinicius Oliveira Sanfelice aborda o problema da imaginação. Para levar a termo tal empreendimento, faz uma reconstrução da questão desde Kant a Husserl até chegar a Paul Ricoeur. Mostra que na tradição filosófica
ocidental o conceito de imaginação sempre foi colocado em segundo plano, sobretudo dentro de um paradigma que tem na percepção o ato fundador da realidade. Argumenta, ancorado em Ricoeur, que através do uso metafórico da linguagem, a imaginação é produtora de sentido.
Vinicius Oliveira Sanfelice, Drndo.

Vinicius Oliveira Sanfelice, Drndo.

Adelar Conceição dos Santos analisa a evolução da noção de ego trancendental na fenomenologia de Edmund Husserl, que por sua vez abre caminho para introduzir a reflexão satreana sobre a transcendência do ego. Inventaria o caminho percorrido por Husserl com relação ao problema do Ego transcendental e sua função dentro da fenomenologia. Reconstrói os motivos que levaram Husserl a mudar a concepção defendida nas Investigações Lógicas, em que o Eu não se distinguidas próprias vivências, e adota a posição contida nas

Meditações Cartesianas, onde o Ego transcendental aparece como correlato da epoché e princípio de constituição do mundo.
Adelar Conceição dos Santos, Drndo.

Adelar Conceição dos Santos, Drndo.

Silvério Costella reflete sobre a relação entre o sofrimento psíquico e a instauração do sentido de infinito ético, no entrecruzamento da literatura e da psicanálise, na compreensão de Lévinas. Apresenta o sofrimento psíquico como um mal do ser, oriundo de uma falha na formação do sujeito e como excesso que se torna inútil ao determinar um modo de ser patológico, indicando uma alteridade problemática ao “acolher” o sintoma ao invés do sujeito. Enfatiza a representação do paradigma do mal por meio da literatura ficcional de Primo Levi, que demonstra a decadência absoluta do sujeito frente ao sofrimento e da literatura ficcional bíblica, através do personagem Jó, mas que não sucumbe ao sofrimento e aos sintomas. Mediante uma análise fenomenológica fictícia, o autor defende que o sofrimento psíquico é um “mal psíquico”, um mal da “criação” da vítima e que a ficção literária permite liberdade infinita para referir esse mal como inerente à criação humana, um enigma.
Silvério Costella, Drndo.

Silvério Costella, Drndo.

Diego Carlos Zanella apresenta uma considerável análise acerca da ética discursivo –  comunicativa de Habermas. Preconiza que uma ética do discurso, a partir da chamada pragmática linguística, pretende em sua fundamentação construir e formular uma justificação racional argumentativa, através de procedimentos que visam o desenvolvimento de proposições vivenciadas e consensuais. Conclui que a ética do discurso é a tentativa de estruturar uma teoria da racionalidade amparada na “razão comunicativa”, a qual não é apenas
uma denúncia contra a “razão instrumental”, mas uma proposta de uma ética do “viver bem”, da “felicidade” e da “solidariedade” entre indivíduos capazes de linguagem e ação.
Diego Carlos Zanella, Dr.

Diego Carlos Zanella, Dr.

                                                                                                                                          EDITORIAL
                                                                                                                                          CRISTIANO CEREZER
                                                                                                                                          MARCOS ALEXANDRE ALVES

Sobre cristianocerezer

Professor Universitário (UNIFRA) e Pesquisador nas Áreas de Filosofia Contemporânea, Fenomenologia, Neurofenomenologia e Meta-ética (UNIFRA/UFSM)
Esta entrada foi publicada em 2012, Apresentação - G.E.I.FEN., FENOMENOLOGIA FRANCESA, PRODUÇÃO DOS MEMBROS, TEMAS DIRETORES. ligação permanente.

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